Labirinto
O trabalho poético da labirinteira, a rendeira da tipologia labirinto, começa não no fazer, mas no desfazer. É sobre uma grade que ela abre vazios sobre tecidos planos de linho e algodão, e com os motivos escolhidos, tomam forma desenhos delicadíssimos. É comum, no Ceará, o maior estado guardião do labirinto no Brasil, que as rendeiras ostentem um pé de mandacaru nas portas de suas casas, como se dissessem: aqui mora uma labirinteira. Não por acaso, já que o espinho do mandacaru é uma das ferramentas utilizadas pelas labirinteiras para conferirem a vida única que emprestam aos tecidos. Da beira da praia de Majorlândia, em Aracati, saem verdadeiras joias.
O fazer
Nesse fazer, primeiro se estica o tecido na grade. Depois o tecido é desfiado, com agulha e navalha, no local em que o labirinto será feito. Um processo lento em que as linhas desagrupadas do tecido são contadas, separadas e cortadas. O próximo passo é agrupar as linhas formando uma rede de pequenos espaços que irão ser preenchidos por diferentes pontos com a ajuda da agulha e das linhas. No fim desse processo, o tecido ainda recebe um banho de um mingau feito de água e goma de mandioca e é esticado novamente na grade para secar ao sol.
Um mapa de significados
Pontos do labirinto: O cerzido, o torcido, o ponto-de-melindre, o caseado ou perlado e a bainha são alguns dos pontos mais conhecidos dessa arte manual.
Cola ou mingau: Uma mistura rala de água e goma de mandioca feita no fogão para banhar as peças prontas e dar mais estrutura ao tecido após secar. Mais uma prática que mostra como essa manualidade foi assimilada pela cultura cearense após chegar nas mãos das nossas artesãs.
Grade: Uma espécie de bastidor feito com ripas de madeira para sustentar o tecido. Uma linha vai sendo passada pela trama do tecido e dando a volta na madeira, criando uma estrutura que suspende o pano para permitir o manuseio da agulha na peça.
Aracati: É praticamente consenso entre estudiosos que a palavra Aracati, que vem do Tupi, significa “bons ventos”. Ainda assim, a maresia umedece os tecidos que aguardam ser desfiados, preenchidos, lavados e esticados nas varandas das artesãs nesse pedaço bonito do litoral cearense.